Gigi Meroni é uma das personagens mais fantásticas do futebol italiano. Basta dizer que uma simples busca no
site Google resulta em mais de 180.000 páginas contendo citações do atacante, ao que se somam 2 importantes livros que tratam exclusivamente de sua vida:
Gigi Meroni: il ragazzo che amava i Beatles e i Rolling Stones, de Sergio Barbero, e
La farfalla granata: la meravigliosa e malinconica storia di Gigi Meroni, il calciatori artista, de Nando dalla Chiesa.
Também não é possível esquecer que no último dia 13, em homenagem aos 40 anos de seu falecimento, foi inaugurado um bonito monumento no
Corso Re Umberto, uma das principais vias de Turim, onde o atacante morava e na qual também ocorreu o acidente que ceifou sua vida precocemente.
Mas quem foi Luigi Meroni? Algum atacante que fez quase 1.000 gols? Não, La farfalla granata anotou, em verdade, apenas 28 tentos na Serie A durante toda a sua carreira.
Então, porque tanta idolatria?
Em síntese, porque Luigi Meroni era uma ala destra di notevole valore tecnico (à direita, no alto, em ação - Guerin Sportivo), mas também um contestador, "un simbolo di estri bizzarri e libertà sociali in un paese di quasi tutti conformisti" nas palavras do jornalista Gianni Brera.
Nascido em Como aos 24 de fevereiro de 1943, Il bimbo magico teve uma infância difícil, na qual perdeu o pai muito cedo (com 2 anos), despontando no próprio Como Calcio no início dos anos 60.
Em 1962 Meroni se transferiu ao Genoa, onde logo conquistou a simpatia do público, ainda que o início dentre as 4 linhas não tenha sido tão fácil, vez que o treinador Renato Gei tinha preferência pelo più esperto Bean ou pelo brasileiro Germano no ataque rossoblù.
No campeonato seguinte, com o argentino Beniamino Santos como treinador, Meroni teve uma grande annata e con i suoi dribbling danzando sulla palla levou o Genoa a um excelente 8º posto no campeonato e a rivincere la Coppa delle Alpi na Europa.
Fora de campo, causou furor quando, certo dia, conheceu uma jovem chamada Cristiana Uderstadt no Luna Park (um famoso parque de diversões em Gênova), que já estava comprometida. No dia do casamento da ragazza, Meroni compareceu a igreja e de lá saiu em lágrimas. Mas o matrimônio durou pouco e depois de um mísero mês Cristiana já estava com Gigi, o que foi um escândalo na época.
Ao final da temporada 1963/1964 Meroni foi cedido ao Torino, gerando grande revolta entre os
tifosi do Genoa.
Em Turim, Il bimbo magico se transformou na Farfalla (borboleta) granata e sob o comando de Nereo Rocco (na foto à esquerda em uma de suas investidas à área adversária - Guerin Sportivo) si fa immediatamente apprezzare per le sua giocate, i suoi dribbling e i suoi goal che, anche se pochi, sono ricordati nelle migliori cineteche del calcio.
Com os cabelos normalmente longos e a barba geralmente por fazer, Meroni fugia por completo do padrão do jogador de futebol da época, ainda mais lembrando que o habilidoso atacante escrevia poemas e desenhava suas próprias roupas.
O sucesso no Torino levou Meroni à Azzurra, ainda que o então c.t. italiano Edmondo Fabbri tenha condicionado a primeira convocação ao corte dei capelli, bem como chamou a atenção da poderosa Juventus, que não conseguiu contratar o atacante mesmo colocando sobre a mesa uma quantia exorbitante e até então nunca vista no calcio - 750 milioni di lire!
Dentro de campo, Meroni participou da desastrosa expedição da Itália na Copa do Mundo de 1966 e foi o autor do gol que interrompeu o record di imbattibilità da Grande Inter de Helenio Herrara, que já durava 03 anos.
Porém, no dia 15 de outubro de 1967, logo após o jogo Torino x Sampdoria - vencido pela equipe granata por 4 x 2, Meroni resolveu se dirigir, juntamente com seu companheiro Poletti, a um bar no Corso Re Umberto, tendo parado no meio da travessia da via para aguardar a oportunidade de prosseguir no cruzamento. Como, dalla sua destra arrivò rapidamente un'auto troppo vicina, Meroni e Poletti deram um passo para trás e, enquanto Poletti fu urtato di striscio da una Fiat 124 Coupé, Meroni foi pego em cheio alla gamba sinistra e depois arrastado por mais de 50 metros por uma Lancia Aprilla que vinha em seguida.
Quis o destino que o condutor do Fiat fosse um diciannovenne neopatentato chamado Attilio Romero, vizinho de Meroni e posteriormente presidente do Torino!
Depois de um funeral conturbado (Meroni era um peccatore pubblico) e concorrido (mais de 20.000 pessoas compareceram as cerimônias), no domingo seguinte foi disputado o derby piemontese e o Toro venceu a Juventus por 4 x 0, feito que nunca mais se repetiu.
Daí, surgiu o chamado Fattore Meroni, pois, curiosamente, o Torino jogou 8 vezes no dia 15 de outubro desde a morte de Meroni até o corrente ano e nunca perdeu, conquistando 6 vitórias e 2 empates.
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