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quinta-feira, março 04, 2010

A Itália Nos Mundiais - 1950


Canceladas as edições previstas para 1942 e 1946 em decorrência da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo teve sua quarta edição realizada apenas no ano de 1950, no Brasil.
Prevista para ter 16 participantes, a competição novamente sofreu com baixas importantes, já que Tchecoslováquia e Hungria, além de Alemanha e Japão, sequer participaram do torneio eliminatório e Escócia, Índia e Turquia, classificadas para a Copa, desistiram de participar do torneio (o caso mais curioso foi o dos indianos, que não viajaram porque a F.I.F.A. não autorizou que seus jogadores atuassem descalços!).
A Argentina, por causa de uma greve dos jogadores e do êxodo de alguns de seus melhores valores (dentre os quais Di Stéfano) para a famosa liga pirata colombiana, também não tomou parte sequer das Eliminatórias, assim como Peru, Equador, Áustria e Bélgica.
A própria Itália, ainda sentindo os efeitos da Segunda Guerra Mundial, só participou da competição por insistência da F.I.F.A., que custeou as despesas da Azzurra.
Assim, apenas 13 seleções participaram da competição (França e Portugal ainda foram convidadas a participar, mas declinaram do convite) que foi realizada entre 24 de junho de 16 de julho e teve uma fórmula de disputa inédita - pela primeira vez as seleções foram divididas em grupos e não houve final, mas um girone finale disputado pelas primeiras colocadas de cada grupo.
Inserida no Grupo 3, ao lado de Suécia, Paraguai e da desistente Índia, a Itália chegou ao Brasil em pleno caos, enfraquecida não só pela tragédia de Superga - quando sucumbiu toda a delegação do Grande Torino que havia vencido 5 scudetti e formava a base do selecionado italiano (na foto do alto, contra a Hungria em 11 de maio de 1947, a Itália formou com 10 jogadores do Torino - com apenas o straniero Sentimenti IV, goleiro da Juventus - Guerin Sportivo), mas também pelo fato de uma preparação totalmente inadequada.
Comandados por uma comissão presidida pelo cartola Ferruccio Novo, dirigente do Torino, os italianos viajaram para o Brasil de navio, enfrentando 16 dias de cansativa travessia do Atlântico, período no qual os treinamentos se resumiram a exercícios leves realizados no convés (o vídeo ao final do post traz imagens históricas e bastante curiosas, inclusive relato do atacante Pandolfini acerca da perda das bolas levadas a bordo do navio SISES), o que não impediu as contusões de Boniperti e Lorenzi (vide http://calcioseriea.blogspot.com/2007/05/memorabilia-lorenzi.html).
Em São Paulo, o selecionado italiano ainda se instalou em um luxuoso hotel onde também estavam hospedadas belíssimas bailarinas argentinas, que foram uma constante tentação para os atletas italianos que, dizem, ainda participaram de uma animada festa na véspera da estréia contra a Suécia.
Ainda assim, o jogo contra os nórdicos, realizado no Pacaembu aos 25 de junho, não era considerado impeditivo para a Azzurra, vez que a Suécia, que tinha algum dos seus melhores jogadores atuando na Itália (dentre os quais os famosos Gren, Nordahl e Liedholm, do trio Gre-No-Li), se apresentou com um time rigorosamente amador.
Porém, melhores preparados fisicamente, os suecos mostraram ainda ter um vivaio formidável e apresentaram uma nova fornalha de craques, com destaque para il geniale Skoglund (que depois jogou quase uma década na Inter) e o forte atacante Jeppson (que posteriormente fez sucesso na Atalanta, no Napoli e no Torino), derrotando a Itália (na foto acima o time italiano na ocasião, com Boniperti sendo o último agachado à direita - Guerin Sportivo) por 3 x 2.
A Azzurra, que foi disposta no 2-3-5, ainda largou na frente, iludida com o gol do granata Carapellese em cruzamento de Cappello (obviamente não do atual c.t. inglês, mas do bolognese Gino) aos 7', mas sofreu o revés com uma doppietta de Jeppson e tento de Andersson, resultando na primeira derrota italiana em mundiais, de nada adiantando o gol de Muccinelli aos 75', embora a Itália tenha ainda acertado a trave no último minuto de jogo.
Diante do empate entre suecos e paraguaios em 2 x 2 no dia 28, a Itália entrou em campo aos 2 de julho para enfrentar os sul-americanos já eliminada (apenas o primeiro de cada grupo se classificava para a rodada final), voltando para a Europa com um fácil sucesso por 2 x 0, gols de Carapellese e Pandolfini.
Assim, a Copa que registrou a estréia da Inglaterra em mundiais (até então os inventores do futebol tinham se recusado a participar) e a tragédia do Maracanazo, deixou um gostinho de frustração nos italianos, que certamente poderiam ter feito uma campanha melhor com um pouco mais de planejamento.

Na Última Vez ...

9 Comments:

At 3:48 PM, Blogger Michel Costa said...

É incrível notar como o futebol era incipiente há 60 anos, Rodolfo.
Quase perco a paciência quando meu amigo Sávio, vinte anos mais velho que eu, teima que o futebol do passado era mais forte.
Que nada! Para mim, mesmo tecnicamente, o futebol evoluiu na mesma proporção que a tática e a preparação física.
Mas isso não significa que os jogadores do passado não tiveram valor. Tiveram e muito, pois foram os precursores do esporte que conhecemos hoje. Mas daí a serem melhores vai uma longa distância.

Abraços.

 
At 10:18 PM, Blogger Rodolfo Moura said...

Michel,
Realmente, o futebol mudou muito de 1950 para cá e, certamente, ficou mais difícil de ser jogado, pois hoje não há o espaço que existia tempos atrás.
Concordo com você e não acredito que o futebol de outrora fosse mais forte, mas é compreensível que, com o passar do tempo, as pessoas tenham nostalgia do passado e acabem só lembrando de coisas boas, inclusive relativas ao futebol.
Abraços,

 
At 11:20 AM, Anonymous Fabriani Melazzo said...

Eu prefiro não fazer nenhuma comparação com o passado.
Não acho justo.
Mas devemos sempre entender o passado. Isso eu acho essencial.
É lindo ver e analisar a história do futebol (principalmente o da Bota) e para isso precisamos nos "transportar", pois só compreendemos o passado se nos colocarmos naquela realidade.

 
At 12:04 PM, Blogger Michel Costa said...

Pois é, Rodolfo. É como dizem:
"O saudosista não tem saudade das coisas do passado, mas de sua própria juventude."

Abraços.

 
At 5:46 PM, Blogger Rodolfo Moura said...

Prezados,
Coincidentemente, hoje a SporTV apresentou um especial sobre a final da Copa do Mundo de 1970, entre Brasil e Itália - sem querer entrar no mérito de Pelé & Cia., ao menos é facilmente constatável que os jogadores tinham muito mais espaço para jogar, vez que a marcação só começava a realmente ocorrer na intermediária.
Outro fato que me chamou a atenção foi o goleiro Albertosi ter jogado sem luvas!
Abraços,

 
At 10:30 AM, Anonymous Fabriani Melazzo said...

Rodolfo.
Me parece que na Copa de 70 o Felix também fez alguns jogos sem luva. Não tenho certeza.

 
At 12:04 PM, Anonymous Prisma said...

Alguém já treinou num navio, fazendo exercicios leves? Fazer uma preparação num navio é dose mesmo, mas falando sério, talvez a Itália nem deveria ter participado dessa copa, depois da tragédia de Superga

 
At 3:02 PM, Blogger Rodolfo Moura said...

Fabriani,
Realmente, no livro 'Goleiros - Heróis e Anti-Heróis da Camisa 1', de Paulo Guilherme, consta que Félix jogou toda a Copa de 1970 sem luvas, só usando o equipamento na final.
Aliás, pesquisando, encontrei uma fonte que afirma que as luvas usadas pelo goleiro brasileiro na finalíssima eram de ... motoqueiro!
Será?
Abraços,

 
At 3:04 PM, Blogger Rodolfo Moura said...

Prisma,
É verdade, imagino que a Itália, antes mesmo da tragédia de Superga, enfrentasse já sérias dificuldades decorrentes da própria Segunda Guerra Mundial e só deve ter aceitado ir à Copa por pressão da F.I.F.A.
Abraços,

 

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